Minha identidade de volta.

O que restou em mim depois que você foi embora?
Você com toda certeza apostou que não sobraria muita coisa além do meu ego perdido, um coração partido e muitas lágrimas. Você sempre achou que era a única coisa que eu tinha e que você tinha muito mais além de mim, os sorrisos das mulheres da rua, as insinuações descompromissadas das suas amigas, seus amigos do futebol e que agora eu não pensava em vida sem você.

E não é que você estava certo em algumas coisas, você era boa parte do que eu tinha, ou até mesmo tudo. Mas além daquelas poucas coisas suas que você trouxe para o meu apartamento, você levou minha autonomia, minha vida, minhas opiniões e minha escolhas, tudo aquilo que eu abri mão só para te agradar,  até minha melhor amiga você conseguiu afastar de mim. 

E o que mais me choca é que logo eu, tão segura de mim, tão inabalável, tão descrente no amor, fui me entregar assim de bandeja para você; logo eu fui me encantar com as suas palavras cheias de más intenções que sendo ingênua não enxerguei.

Eu te entreguei meu corpo e minha vida. Você? Você me ofereceu algumas noites, uns abraços e alguns telefonemas de carinho. Sabe que eu era feliz? Eu trocava tudo para te ter por perto, eu fazia qualquer coisa se fosse por você, crente que a reciproca era verdadeira, mas tadinha de mim não é? 

E o que você me disse depois de toda essa entrega? 
"Eu nunca disse que te amava e muito menos pedi para me amar, você é bem grandinha e já sabe o que faz da sua vida. Somos adultos e vamos resolver isso como adultos, eu vou, você fica, cada um segue sua vida e aqui é o fim da linha do nosso rolo."  

Rolo? Tudo para você não passou de um rolo? Então era sim que você nos definia para os seus amigos, isso que você pensava da gente? Eu que nunca dava ponto sem nó virei o rolo de alguém?

Mas depois que você passou daquela porta, eu me dei conta que a vida não acabava ali, mesmo que eu estive deitada no chão da sala tentando entender os últimos três meses, que para você pelo jeito não passaram de quinze dias, o relógio não pararia, o sol nasceria de novo e o mundo ainda estava inteirinho lá fora me esperando, e ele sim se entrega de maneira mútua a mim. 

Você me fez, em tão pouco tempo, acreditar que sozinha eu não seria mais capaz, que agora eu respirava sua presença e temia sua ausência, você me fez ter medo da minha própria companhia.Mas você foi embora, e nem me deixou manual de instruções, eu teria que me conhecer de novo e parece que agora eu fiquei bem mais interessante.

Desculpa, mas parece que a garota que se entregou a você depois daquelas doses de tequila estava só em coma alcoólico dentro de mim, obrigada por recuperá-la. 

Eu assumo.

"A primeira vez que aprontares comigo a culpa é tua, a segunda a culpa é minha"

Não existe culpa se eu tiver você, seu sorriso de graça, as conversas jogadas fora em uma madrugada qualquer ou o segredo de sermos só nos dois.
Você faz com que eu me perca nos seus braços sem pensar em mais nada, confiando cegamente em você.
Pagar essa pena nunca será mais do que você dá sem saber.

Parece que eu consegui virar a página e dessa vez, ao contrario da primeira, eu vou sim me entregar de cabeça, arriscar, não pensar.
Dessa vez não existirão mais "e se" "mas" ou "talvez", eu prometo que dessa vez somos só eu, você, nossas trocas de olhares e mais nada.

Esse tempo longe foi bom para me fazer perceber que você não me deixou, EU te deixei ir, eu não fui forte o suficiente para enfrentar meus medos e você cansou de lutar sozinho por uma causa que era nossa.
E quando eu percebi o que você sempre me falou no olhar, quando eu finalmente traduzi seus cuidados, já era tarde e eles não eram mais meus.

A primeira vez a culpa foi minha, mas eu assumo essa culpa de corpo e alma se for para e ter por perto.
Eu assumo sem pensar, se você fizer a valer a pena.

Então não me faça me arrepender de ter deixado você se reaproximar.
Não some, não vai embora...não sem em levar junto.