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domingo, 1 de março de 2015

BEIJA EU



Chegou em casa depois de um dia exaustivo no trabalho. Escutou o barulho do chuveiro e respirou profundamente por três vezes. Desviou da gata que vinha lhe receber, diferente de outras noites em que disputava espaço no corredor com aqueles pés, hoje ela vinha sozinha.

Haviam discutido, por três dias sem parar, sem tréguas ou pequenos momentos de calmaria.

Depositou a chave no móvel amarelo, exigência daquela outra, aquela pela qual a uma era perdidamente apaixonada. Não conseguia decidir se era o tom de voz ou o sorriso, talvez fosse o jeito infantil, ou não fosse nada disso e simplesmente fosse. Era.

Discutiam meio sem razão, alguns gritos, lágrimas. A gritaria incomodava os vizinhos, não pelo barulho, mas porque não as ouviam brigar.  Discutiam sobre a cama, entre os lençóis, olhando-se nos olhos e contradizendo as palavras de ódio com aquele velho encontro que não sabia dizer nada além de "eu te amo".

A uma pensou se seguiria para o quarto, ela estava pensando, diferente de outras noites, onde corria para a outra, ou com a outra. Ela não pensava se deveria correr para a sua, simplesmente corria mas hoje era diferente.
Optou pela cozinha. Água com gás. Estava se acalmando antes mesmo de ficar nervosa, estava agitada, mas ainda conseguia controlar.

DESCULPA! Aquela outra escreveu com marcador permanente no rótulo da garrafa. DESCULPA! Escreveu em vermelho e letras garrafais. DESCULPA! Por uma terceira vez onde a uma conseguiu escuta-la soluçar. O chuveiro havia parado e a água agora vinha através de lágrimas da uma e da garrafa da derramada sobre a pia. "Por que sempre uma desculpa, apenas não erre, seja cuidadosa e não precisará delas.", pensou e vociferou, NÃO PRECISO DELAS!

Não havia notado a outra parada com certa distância de seu corpo, se assustou quando a viu ali, de cabelos molhados e uma camisola leve.

EU TE OUVI CHEGAR. Tentou seguir para o quarto,  mas a outra colocou-se no caminho. 

VOCÊ SABE QUE ODEIO DESCULPAS. Tentou mais uma vez sem sucesso seguir até o quarto. VOCÊ AO MENOS SABE POR QUE AS PEDE?

PORQUE EU TE AMO. Em um filme Hollywoodiano, talvez a uma desse início a uma risada sarcástica enquanto a outra chorasse. Mas elas só protagonizam a sua própria história, onde não existe roteiro ou indicações ao oscar.
Mas a uma encostou na parede e fez aquilo que a acalmava melhor do que qualquer outra forma de relaxamento, puxou a outra pra si, em um abraço apertado.

Era diferente das outras noites, apesar de haver saudade. Havia medo, se tornariam aquilo? Estranhas medindo passos dentro de suas casas. Desconhecidas de toques frios que dividem a mesma cama. Duas que não sabem ser uma e tem medo de admitir. Havia muitos porquês até que a outra se mexeu entre os braços da uma e a olhou nos olhos, não estavam sob seus lençóis, mas estavam ali, dentro daquele mesmo debate. Aqueles olhos que se encontram e simplesmente dizem, não adianta que neguem, ou tentem fugir, eles gritam, a qualquer um, mas daquela forma, eles são os mais altos sussurros, ou poderiam ser silenciosos, mudos!  Que elas ainda conseguiriam ouvir. eu te amo. EU TE AMO. E se amavam. Sem sombras,  sem luz, ali no escuro do corredor elas se amavam e ainda se amariam se tivesse luz.

Era um amor, desses raros que sustentam, alimentam de dentro pra fora e de fora pra dentro. Sem que uma palavra fosse dita, imploraram. Os lábios de uma em encontro com os da outra. A mão afoita que deslizava com calma. O coração que parecia estar por todo corpo, porém trocados. A uma pertencia a outra, enquanto a outra sem sombras de dúvida era a uma. 

Sem que nada fosse dito, apenas sentido, se perdoaram, ali, enquanto a uma se perguntava por quê?  E a outra respondia ao se encaixar em seu corpo de maneira tão perfeita. 

Porque a amava.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Meu lugar no mundo

Me perguntaram esses dias qual seria o melhor lugar do mundo, onde eu não tivesse mais vontade de sair, me sentisse em casa e protegida. Muitas pessoas diriam Paris, outras Nova Iorque, Projota quer que o mundo explora se um coração for seu abrigo, e eu? Eu moraria no seu abraço. Meu lugar é qualquer um, desde que você esteja.

Não é perto, nem na rua debaixo nem na de cima, meio na contra mão ( assim como acontecessemos), não é de fácil acesso porque o destino quis assim, mas não tem problema, a gente sempre se ajeita, na minha cama pequena (ou na sua King size), eu não sei fazer poemas, nem raps, mas pode deixar que eu sem dúvidas posso te cobrir de amor.

Eu ganho o dia quando tiro uma gargalhada sua, tenho um sorriso no rosto o tempo todo quando o dia é na sua companhia. Mudo por você toda minha rotina, como diria aquela música que gosta,  eu até pintaria a casa de amarelo e olha que não acho amarelo uma boa cor para casas.

Eu até andei em outras ruas,  tentei te achar em outro sorrisos, fingi estar a vontade em outras casa. Mas nada é como seu sorriso, ninguém é como você. Nenhuma melodia se compara a sua voz, nenhum toque me arrepia como o seu. Ninguém me deixa a vontade pra cuidar e ser cuidada, eu sou com você e mais ninguém.  

Então sinto em te informar, que, meu amor,  alguém escreveu em algum canto que a missão de me fazer feliz é sua, agora chega mais perto e esquece o mundo lá fora. Só eu e você na nossa bolha, vamos ver no que vai dar.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Hoje não

 
São três da manhã e eu tive insônia pela quinta noite seguida. Insônia. Há meses eu não sabia o que era isso, porque eu não tinha horas de sono suficientes para acabar em insônia. As três da manhã, nos ainda estávamos embolados, no chão da sala ou no balcão da cozinha, a nossa noite durava até o sol chegar. Eu dormia até que meu relógio despertasse religiosamente as nove. Valia a pena as olheiras, as cochiladas no metrô. Por você? valia toda e qualquer pena.

Puxei minha poltrona até a janela (como eu costumava fazer) e estou observando as estrelas com a minha xicara de chá na mão. Eu me permiti fazer chá!  Café também é bom, mas forte, como agrada o seu paladar e não o meu.

Uma semana sem você e hoje eu acho que enfim me dei conta. Porra, porque eu me esqueci todo esse tempo?

Eu descobri enquanto voltava pra casa que terminaram aquela obra que eu me queixava tanto na rua da empresa, sabia? Eu tinha notado a ausência dos andaimes, mas não tinha visto como o prédio é completamente espelhado, os vidros tem um tom de verde diferente (e essa é a parte que você ria de como eu me encantava no pouco).

Aporveitei que não tinha nada para fazer e fui até o meu café preferido (depois de meses). Pedi o mesmo chá e me sentei como de costume, perto da janela, de costas para o salão. Você não gostava de sentar assim,  queria observar as pessoas a sua volta, ver os pedidos que saiam da cozinha e adivinhar para que mesa iriam, mas fazia isso no seu bar preferido, no meu café com ar de casa de vó você nunca viu graça.

Hoje éramos apenas eu, o apanhador de sonhos e Margo, a gata que está sempre sob a janela comtemplando o por do sol em quanto acompanha o balanço do apanhador. Enquanto observava o por do sol na companhia de Margo e na minha própria companhia, me dei conta de que estava com saudades de mim.

Eu sempre dei adeus antes do sol nascer, sempre ria vendo o filme de romance acabar. Tinha um infinito prazer me apontar o dedo pra falar do namorado das minhas amigas. Eu entendia que eles eram bons de papo, ou de cama, mas não entendia onde tão pouco fazia valer a pena. Eu sempre gritei aos quatro ventos: “Não comigo”, mas dizem que o vento sempre traz de volta e ele me trouxe você. De dona dos meus passos, passei a seguir os seus. De antagonista com orgulho, a protagonista boazinha com medalha de honra ao mérito.

Caminhei a passos lentos pela calçada de volta pra casa. E sabe o bulldog que eu sempre via passar com a dona, mas eu estava com pressa e não poderia parar? É o Wilson, hoje eu consegui finalmente fazer carinho nele, porque hoje... hoje eu não tinha você.

Entrei em casa e tudo estava exatamente como deixei. Joguei minha bolsa ao lado da porta. Tirei a roupa enquanto seguia até o banheiro. Você odiava que eu deixasse tudo espalhado. Mas hoje era apenas a minha opinião que contava. Liguei o chuveiro no verão e deixei que a agua gelada molhasse meus cabelos. Você não estava ali para dizer que eu poderia ficar doente tomando banho gelado a noite. Deixei que agua levasse todas as lembranças ruins. Deixei que minha alma fosse lavada.

Passei pela minha estante e peguei aquele livro que eu tinha prometido devolver a Pati em alguns dias, mas ai você apareceu e todos os meus planos ficaram pra depois, eu só fazia planos que coubessem em nós dois. O livro é ótimo e acredito que eu vá finalmente devolver em alguns dias.

E quero que saiba que mesmo que pareça arrependimento não é, porque eu te amei. Amei em cada defeito, cada briga e cada vez que seus olhos encontravam o meus. Eu te amei,  por mais cheia de erros que fosse a nossa relação, por mais que as minhas amigas tenham desacreditassem em como mudei ou não entendessem porque eu estava com você. Eu vivi o outro lado da moeda e agora elas quem apontavam o dedo para mim e acariciavam minha cabeça enquanto eu chorava.

Mas valeu a pena, por finalmente  entendi que para todos os amantes errados existe uma razão para amar de qualquer jeito pareça o jeito certo.

domingo, 3 de agosto de 2014

Preciso te dizer até mais

Olha, você sabe como sou desajeitada com as palavras e não sei falar verdades de uma vez (você costuma dizer que eu amenizava tudo, colocando um pouco de açúcar e mel, pra passar pela garganta mais fácil).

Eu te contei várias vezes como não suporto finais e você aprendeu a me distrair quando o filme acabava, pausa antes das letras subirem e inventava uma continuação comigo. Aprendeu também que eu não assimilo nada em volume alto, nem música,  nem tv (e muito menos suas crises).  Entendeu depois de muito custo que o feijão vai em cima do arroz e não ao lado.  Decidiu jogar sua mini farmácia fora e aderiu ao meu remédio pra tudo, chá.

(Você cuida de mim.)

Mas, sabe o que é. Não,  não é sua mania de comida saudável.  Não,  também não é o seu pé gelado que insiste em colocar no meu durante a noite. Muito menos a sua impaciência com os meus atrasos. Sabe o que é?  Bem, eu não sei o bem o que é,  mas é.

É uma tristeza infinita que toma conta quando não estou com você.  É o descuido que tem, apesar de todo cuidado, quando fala comigo. São as suas explosões que ocorrem sem porquê e nem sempre pra quem deveria ser. Não,  por favor, não me entende mal. Eu gosto de cuidar de você, amo ter sua cabeça em meu colo, acariciar seus cabelos e te escutar falar de como sua mãe te cobra um emprego melhor. Eu gosto de sentar no sofá as quartas feiras, vestindo sua camiseta do Palmeiras e  não me importo que minha família inteira seja corinthiana, gosto mesmo é de ver seus olhos brilhar quando me vê nela. Eu fico ali, quietinha entra suas pernas, vibrando os gols e dando alguns palpites que te fazem rir (Aliás, eu entendo muito de futebol, mais que seu amigo o Paulo,  mas eu gosto de te ver explicar como se fosse física quântica.). Eu não me importo de perder meu programa preferido em outro canal, sabe por quê?  Porque eu não me importo com mais nada quando tenho você é aí que está o erro.

Eu deveria me importar.  Não com a conta de luz que você esqueceu de pagar e acabou com o seu vídeo game na última fase, mas nos rendeu uma noite incrível na mesa da sala de jantar. Nem com a sua ex que está sempre por perto e muito menos com o meu chefe dando em cima de mim. Eu deveria me importar comigo, sabe? 

Eu sei que você faz isso por mim e eu por você, eu entendi todo o lance de sermos elos da mesma  corrente. Mas sabe a Tati, aquela minha amiga que você decretou guerra porque sim? Você lembra que ela é minha melhor amiga não é?  Então,  ela me ligou semana passada, me pedindo pra lembrar que ela existe e que ela precisa de mim por perto.  Sabe o meu priminho que você tem paixão? Então,  ela já mudou de faixa no judô, ligou pra contar algumas vezes mas meu telefone só dava ocupado.  Ah, eu também passei na casa da minha mãe ontem depois do trabalho, é, você não me deixou explicar, mas é isso, eu estava com meu chefe. Ela me perguntou se eu estava bem, eu disse que estava ótima e ela me respondeu que ficava feliz de me ver assim, amenizada a saudade de mim.

Eu sei e reconheço tudo que fez por mim, por nós.  Eu entendo que largou aqueles free lances pra ter mais tempo pra mim.  Me escuta. Não grita.

PARA DE GRITAR.

Não chora, não chora. Por favor, eu preciso fazer isso, é por nós dois. Eu levei a sério demais esse lance de ser sua, me tornei exclusividade sua e eu preciso voltar a ser parte de mim.

Eu odeio finais e não posso dizer adeus, quero que lembre da gente como algo bom. A vida é um moinho, meu amor, quem sabe a gente ainda não se cruza.  Eu poderia dizer até mais, falar sobre seu ciúme, seu egoísmo sutil ou sua falta de confiança em mim, mas eu não quero adiar como fazia com meus filmes,  preciso te dizer, até breve.

(Ah, eu fiquei com a camisa do palmeiras e coloquei meu livro preferido na sua mala, pra lembrar que sempre serei sua em alguma parte.)

terça-feira, 8 de julho de 2014

Sobre sermos nós

Se foi paixão? Paixão com certeza é, em toda sua plenitude e intensidade. E se te amei? Apesar de achar o amor é sem graça, cheio de incertezas... quase foi amor.

E nós? Nós acontecemos diferente, fora dos planos, meio sem o  jeito de todo mundo e sempre dando o nosso. E sabe de uma coisa? Eu gosto muito do que e como somos.

Não terminamos após romper, nós fomos mais simples e continuamos. Eu ainda te vejo com os mesmos olhos, por mais que agora os meus não dêem o mesmo brilho ao seus. Tem ternura e tem desejo. Tem amor e tem paixão. Tem a gente, mas o formato é outro. Tem tudo, mas ainda sim falta alguma coisa. E nesse alguma coisa que a gente se perde, é nesse espaço que deixamos que se criem novos laços e que nossos olhos se cruzem a outros.

Você foi a melhor parte de mim. Quem me ensinou que uma relação se faz a dois, que para estar bom pra mim, precisa estar bom pra você "é uma corrente e nós somos os elos".

Você é a melhor parte de mim. Quem me ensina todos os dias a ceder, recuar e reconhecer quando se deve deixar ir.

E você será a melhor parte de mim. Me mostrando quando é necessário deixar que volte, como diria na música que gostamos eu sigo "rezando pra um dia você se encontrar e perceber que o que falta em você, sou eu".

Torço, peço,  mas eu também temo. Temo que esse dia não chegue, que você encontre a mesma paz em outros abraços,  que veja o mesmo brilho em outros olhos, que me esqueça. Ou que ele chegue, porém seja tarde demais e você tenha me deixado tão livre a ponto de me interessar por outro alguém.

Mas, é assim que deixamos, por conta do destino. O que for pra ser sempre vigora. E enquanto rola, nos aproveitamos.  Enquanto continua, nos vamos nos adaptando. 

Sendo só nós, com várias vírgulas, mas sem meio termo,  como várias pausas mas nunca um fim. Você está para mim,  como eu estou pra você e nada está para a nossa história como ela está para para nós.

E que continue, pois se alguns infinitos são maiores que os outros, nosso universo é paralelo a todos.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Que seja

Que te de amor.
Que te tenha por completo.
Que te aconchegue em um bom abraço.
Que te renda bons sonhos.
Que te deseje boa noite com uma voz tênue.
Que te de bom dia sorrindo.

Que sorria.

Que cative o seu sorisso.
Que não derrube suas lágrimas sem que as mesmas passem por um sorriso em sua boca.
Que enxugue seu pranto.
Que te acalante. 

Que te leve para o lugar preferido.
Que assista seu filme predileto.
Que te ensine a gostar de uma banda estranha.
Que aprenda a te gostar entre defeitos e qualidades.

Que não faça falsa promessas.

Que te apaixone todos os dias.
Que te admire todas as tardes.
Que te faça amor todos as noites.

Que te deixe sem espaço pra se arrepender.
Que te de o espaço que precisa para respirar.
Que te faça surpresas. (Boas surpresas.)

Que use pronomes possessivos para se referir a você.
Que te olhe e não tenha dúvidas de que são sob medida.
Que sejam na medida para serem inesquecíveis um ao outro.

Que te ame.
Que te cuide.
Que te faça o que eu um dia fiz, mas que faça melhor. 

domingo, 1 de junho de 2014

Felizes pra ontem




Senta aqui. Perto. Agora olha pra mim.

Onde a gente não deu certo?

Sério, tenta entender, acha o erro, o buraco, alguma briga mal resolvida. E olha que de briga a gente entende, tinha uma pra cada dia da semana, uma grade pra cada estação do ano. Mas, por favor, me lembra alguma briga nossa que não tenha terminado com boas trocas de declarações e de "eu senti sua falta". Lembra alguma que não tenha terminado em duas taças de vinho e na cama.

Não,  nos não eramos o tipo de casal sem dialogo que se resolve na cama. Eramos do tipo que dialoga muito, dialogávamos até demais (talvez por isso brigássemos tanto). Mas  não descontávamos a raiva no sexo, pelo contrário, provávamos nossas palavras no amor.

Nós eramos ao contrario. Casal as avessas. Eramos opostos em sintonia perfeita. O que faltava em mim você me doava e o que eu tinha de melhor, te devolvia em troca. Eu a medida da emoção e você o peso da razão. Você sempre exagerando e complicando tudo, enquanto eu sorria e tentava deixar mais simples.

Mas, onde foi que pecamos? No excesso? No excesso de cuidado, de carinho, de planejamento?

Por que esperávamos tanto do dia seguinte?

Nós tínhamos medo, meu amor, medo de não sobreviver ao amanhã. Medo de não sermos suficientes. Medo de mais, confiança de menos.

Tinha brilho quando dos olhávamos, brilho do melhor tipo. Brilho que se enxerga de olhos fechados. Mas não fomos capazes de fechar os olhos e deixar o coração guiar. Qualquer barulho nos assustava. Quando vento mais forte nos balançava. Sempre tinha alguém de olho aberto, se deixando ver lá fora e esquecendo de olhar aqui dentro.

Planejamos tanta coisa. Inclusive planejamos por muitas vezes nosso fim. Queríamos passar por ele sorrindo, sem magoas. Mas nem tudo é como planejamos. Eu era o seu plano b perfeito, mas era plano b e o b nunca vem antes do a.

Talvez ai que tenhamos errado, criamos nosso universo paralelo e esquecemos que o mundo gira sem pausas.

E eu sei, eu sei,  que isso não te ajuda.

Meu silêncio, na verdade, faz muito mais barulho.


domingo, 18 de maio de 2014

Apartamento 74




Oi, sou eu. O cara idiota que você conheceu naquela balada e se hospedou na casa dele, você lembra? Eu me lembro muito bem de você. Eu não consegui mais encarar as paredes do mesmo jeito depois de tudo. Depois de você. Você as tirou do lugar, deixou tudo menor, mais sombrio, não depois quando chegou, mas quando foi embora. 


E você sabe de que endereço estou falando né? Daquele bem irônico como você dizia: "Rua dos prazeres, n°87  apto 74.". 

Eu ainda consigo escutar a sua voz enrolada de quem havia bebido todas e mais um pouco quando passou daquela porta pela primeira vez: 


"- Enderecinho tosco esse seu hein? De prazer só o nome mesmo, porque aposto que sou a primeira mulher que passa por essa porta e só estou aqui porque estou bêbada. Ah, e que por sinal tem os números do meu nascimento 7 de abril de 1987,


Me diminuindo desde a primeira vez, claro, era o que vocês sabia fazer.


E prazer para você, eram duas pessoas sobre uma cama, ou o chão da sala, tanto faz, mas elas deveriam estar fazendo o que só quatros paredes deveriam saber. 


Suas definições eram simples: ou isso, ou aquilo. Meio termo não existia pra você. Ou bebe muito ou não bebe."Ou fode ou sai de cima."   (nojenta, um tanto quanto fora dos meus padrões, mas sua  preferida.) 


Passou da porta e ficou, parada, observando meu apartamento com jeito de "menino mimado que saiu da casa dos pais só para gastar o dinheiro sem destino, não sai, não bebe, não come, nada  e nem alguém."

Às vezes eu tinha vontade te mandar calar a boca ainda tenho quando sua voz ecoa na minha cabeça e às vezes eu até queria escutar as verdades que você vomitava como todo o álcool que tinha ingerido. 


Saiu do meu apartamento antes do amanhecer, alegou que tinha que passar em casa antes de ir trabalhar. 

Hoje, eu sei que casa, pra você,  era o bar mais perto .

E voltou depois, no dia 4 de julho, uma noite fria e tão vazia quanto você . Se jogou no meu sofá, sem pedir licença e sem ao menos me dizer oi. "Educação é pra gente que ainda não rompeu o hímen.".  Às vezes, eu queria saber de onde você tirava tanta comparação sexual para as coisas. 

Me perdi no raciocínio tentando falar da gente Onde eu estava? 


Ah ta, as paredes, você me fez prometer depois de se jogar no meu sofá e jogar os sapatos em um canto qualquer  que o que acontecesse entra as quatro paredes do meu pequeno apartamento,  ali ficariam e você ficou, foi ficando, tomando espaço e eu me acostumado. 


E eu não sei de onde eu tirei que te amava, não eram só suas comparações idiotas que não faziam meu tipo, você inteira não cabia em mim. a não ser quando estávamos nus, eu e você, de roupa, porque nunca consegui despir minha alma pra você, e você não me daria atenção também. 


Você não me dava muitas explicações sobre porque havia se mudado para o meu apartamento, chegou, entrou, ficou, poucas roupas, muitas garrafas, vicio idiota esse seu. 


Pena que não foi o único que conheci. 


Não me lembro quando, mas lembro que vi, você se drogando dentro do meu banheiro, te pedi para parar, tentei argumentar, mas você queria "viver a vida, seu quadrado, parece minha mãe.".  E bateu a porta na minha cara. 


Eu até queria ligar pra sua mãe e pedir que ela visse o que a filha estava fazendo com a própria vida, mas você me fez prometer e eu levo promessas a sério


Se os números do meu endereço formavam a data do seu nascimento, o próprio decretou seu fim, desculpa a sinceridade  você jamais deveria ter saído da casa da sua mãe, porque foi dentro do meu apartamento que você se acabou e é isso que as paredes me dizem cada vez que eu passo pela porta. 


Entra aquelas paredes eu tinha uma noite fácil, umas decepções a toa, mas tinha o tal do seu prazer. Então, fui me deixado levar, ignorando suas garrafas vazias e seu pó espalhados pela casa. Ignorei quando te vi com outro na minha cama. Ignorei sua festinha enquanto eu viajava é, você tinha razão quando me chamava de babaca. 


Ignorei seus pedidos de socorro em silêncio. E hoje eu me culpo  todos os dias. 


E eu me culpo, mas também desculpo, porque não fui eu que acabei com você pelo menos eu tento me enganar que não,  foi a sua fixação pelo abismo, não sei qual era a graça, mas você curtia observar a vida debaixo, pelo lado mais obscuro possível. Pra você, isso era viver. 


Então,  morreu vivendo, sendo feliz na sua pequenez de vida. 


E ai eu passei da porta depois das oito da noite em uma terça feira e te encontrei caída no chão, ao lado seus tão idiotas quanto você vícios. 


E aí agora eu estou aqui, presenciando que esses números realmente te perseguem, você a 7 palmos do chão e eu sentado na 4ª lápide da direita para esquerda, falando com uma mulher louca que bagunçou a minha vida, e mesmo sem a dela não me deixar mais viver em paz. 


Tchau, eu só vim te contar como eu não ando em paz graças a você, ( o que te deixaria satifestia, com um sorriso sacana no rosto e dançaria dizendo que é enlouquecedora, usando as palavras no sentido errado, sempre!)  alguém que nem amei. 


Paixão pode até ter sido  Amor? nunca.

Desculpa a sinceridade, aprendi com você.


Ah, eu já ia me esquecendo, como me fez prometer, sua mãe acha que você morreu de pneumonia, mais uma culpa que eu carrego por você, estou de parabéns.    Ela não precisava saber que a filha escolheu morrer. 









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