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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Hoje não

 
São três da manhã e eu tive insônia pela quinta noite seguida. Insônia. Há meses eu não sabia o que era isso, porque eu não tinha horas de sono suficientes para acabar em insônia. As três da manhã, nos ainda estávamos embolados, no chão da sala ou no balcão da cozinha, a nossa noite durava até o sol chegar. Eu dormia até que meu relógio despertasse religiosamente as nove. Valia a pena as olheiras, as cochiladas no metrô. Por você? valia toda e qualquer pena.

Puxei minha poltrona até a janela (como eu costumava fazer) e estou observando as estrelas com a minha xicara de chá na mão. Eu me permiti fazer chá!  Café também é bom, mas forte, como agrada o seu paladar e não o meu.

Uma semana sem você e hoje eu acho que enfim me dei conta. Porra, porque eu me esqueci todo esse tempo?

Eu descobri enquanto voltava pra casa que terminaram aquela obra que eu me queixava tanto na rua da empresa, sabia? Eu tinha notado a ausência dos andaimes, mas não tinha visto como o prédio é completamente espelhado, os vidros tem um tom de verde diferente (e essa é a parte que você ria de como eu me encantava no pouco).

Aporveitei que não tinha nada para fazer e fui até o meu café preferido (depois de meses). Pedi o mesmo chá e me sentei como de costume, perto da janela, de costas para o salão. Você não gostava de sentar assim,  queria observar as pessoas a sua volta, ver os pedidos que saiam da cozinha e adivinhar para que mesa iriam, mas fazia isso no seu bar preferido, no meu café com ar de casa de vó você nunca viu graça.

Hoje éramos apenas eu, o apanhador de sonhos e Margo, a gata que está sempre sob a janela comtemplando o por do sol em quanto acompanha o balanço do apanhador. Enquanto observava o por do sol na companhia de Margo e na minha própria companhia, me dei conta de que estava com saudades de mim.

Eu sempre dei adeus antes do sol nascer, sempre ria vendo o filme de romance acabar. Tinha um infinito prazer me apontar o dedo pra falar do namorado das minhas amigas. Eu entendia que eles eram bons de papo, ou de cama, mas não entendia onde tão pouco fazia valer a pena. Eu sempre gritei aos quatro ventos: “Não comigo”, mas dizem que o vento sempre traz de volta e ele me trouxe você. De dona dos meus passos, passei a seguir os seus. De antagonista com orgulho, a protagonista boazinha com medalha de honra ao mérito.

Caminhei a passos lentos pela calçada de volta pra casa. E sabe o bulldog que eu sempre via passar com a dona, mas eu estava com pressa e não poderia parar? É o Wilson, hoje eu consegui finalmente fazer carinho nele, porque hoje... hoje eu não tinha você.

Entrei em casa e tudo estava exatamente como deixei. Joguei minha bolsa ao lado da porta. Tirei a roupa enquanto seguia até o banheiro. Você odiava que eu deixasse tudo espalhado. Mas hoje era apenas a minha opinião que contava. Liguei o chuveiro no verão e deixei que a agua gelada molhasse meus cabelos. Você não estava ali para dizer que eu poderia ficar doente tomando banho gelado a noite. Deixei que agua levasse todas as lembranças ruins. Deixei que minha alma fosse lavada.

Passei pela minha estante e peguei aquele livro que eu tinha prometido devolver a Pati em alguns dias, mas ai você apareceu e todos os meus planos ficaram pra depois, eu só fazia planos que coubessem em nós dois. O livro é ótimo e acredito que eu vá finalmente devolver em alguns dias.

E quero que saiba que mesmo que pareça arrependimento não é, porque eu te amei. Amei em cada defeito, cada briga e cada vez que seus olhos encontravam o meus. Eu te amei,  por mais cheia de erros que fosse a nossa relação, por mais que as minhas amigas tenham desacreditassem em como mudei ou não entendessem porque eu estava com você. Eu vivi o outro lado da moeda e agora elas quem apontavam o dedo para mim e acariciavam minha cabeça enquanto eu chorava.

Mas valeu a pena, por finalmente  entendi que para todos os amantes errados existe uma razão para amar de qualquer jeito pareça o jeito certo.

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