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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

In-diferente




Chequei meu celular pela terceira vez em cinco minutos. Nada. Absolutamente nada. O mesmo silêncio de cinco minutos atrás. As mesmas páginas vazias de cinco horas atrás. A mesma você que não aparece há bem mais que cinco dias.

Busquei seu número na agenda pela segunda vez no dia, considerando que acabou de dar três da tarde no relógio e eu acordei as oito, a frequência  diminuiu de uns dois dias pra cá. Eu paro por alguns instantes na sua foto, clico no número, chamar, cancelar. Sempre o mesmo ritual.

Ligo a TV em busca de distração. Rodo os canais e olha só, está passando aquele filme que você tanto gosta. Corro para te avisar em uma dessas malditas redes sócias que nós avisam de cada passo da pessoa. Visualizado às 15h05. Você esteve online. Você esteve aqui e não me chamou. Tudo bem, talvez estivesse ocupada, nem vou avisar do filme.

Mais alguns canais e nada conseguiu prender minha atenção. Meu celular vibra e minha esperança outra vez cresce. Tem que ser você, precisa ser você. Desbloqueio e penso para verificar quem é o remetente. Um, dois, três, coragem. Respiro fundo. É claro que não é você. É um amigo em comum me perguntando de você. Não sei dela. Apaga. Ela não fala comigo há dias. Apaga. Ela está bem, eu acho. Apaga. Ela está bem.

Na realidade, eu não sei se você está bem, mas eu não aguentaria ele me enchendo de perguntas. Principalmente as que envolvesse eu não saber de você. Melhor assim. Eu sei tanto quanto ele, tanto quanto você quer que eu saiba. Você está bem. Sei o que suas redes sociais me informam. Você está aparentemente bem. Sim, eu confiro suas redes sociais, todos os dias. Ok, ok. Eu confiro quase toda hora. Desculpa, eu sei que parece obsessivo, mas eu preciso acompanhar seu dia de alguma forma.

Eu abri uma nota no meu celular em que eu anoto tudo que você saberia se estivesse aqui. Não ria. Eu sinto a sua falta. Eu realmente sinto a sua falta. Sinto tanto que chega a doer. Dói tanto que qualquer um que me ver sabe que tem algo errado aqui.  Tem tanta coisa acontecendo e sem você não tem a mesma graça. Mas tudo bem, eu entendo, a vida é um moinho e ela gira sem avisar para que lado vai.

Estou aqui torcendo pro vento do seu te trazer de volta.

Tudo tem girado mais devagar sem você aqui. 

Espera.

Na verdade, tudo tem girado do mesmo jeito, é que falta você para me auxiliar a acompanhar o movimento.  

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Terceira pessoa do singular.



Gostava de brincar de ser séria e dar conselhos.  
Gostava das modernidades da vida, entregava seu corpo e jamais o coração.  
Ela gostava de correr, correr do amor e de sentir o vento baguncando seus cabelos. 
Ela gostava de abraçar, abraçar oportunidades e sentir o mundo nas mãos.
Ela não só gostava de sorrir, ela amava, amava ser correspondida, escondida,  viver a sua sina. 
De azedar as coisas, de resolver problemas e entrar em ciladas. 
De se enroscar em respostas, desenrolar em perguntas, de ter certeza. 
Não tinha nada que ela gostasse mais do que rodar o mundo,  sonhar no escuro e ser notável a luz do dia.

Gostava do silêncio da noite e do barulho do trânsito. De música baixa, dizia que refletia na melodia,  inventava uma versão só sua. Mas também gostava de gritar suas partes preferidas. E amava dançar nas melhores batidas. 
Dançava e desligava,  desligava a gravidade,  flutuava, sorria, girava,  cair em si ela deixava pra depois, sempre deixou.

Só caia em si sozinha, numa rua sem saída,  quando o copo transbordava,  ai caia e depois chorava, não rodopiava e nem sorria, tinha que esgotar para não retornar tão cedo.
Caia pra recuperar energias,  pra se colocar no lugar.
Se montava,  da cabeça aos pés,  de corpo e alma e tornava a gostar.
Gostar de céu estrelado,  de banho de chuva, de voltar pra casa e dia cheio. 
De se fazer de difícil,  de dificultar sua vida.

Deixa ela, ela gosta mesmo é de viver.  Caindo, girando,  errando,  um dia ela aprende. Ou quem sabe já até não aprendeu? 
Ela assim, gosta de  fazer de tudo e todos um momento só seu.

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