Oi, sou eu. O cara idiota que você conheceu naquela balada e se hospedou na casa dele, você lembra? Eu me lembro muito bem de você. Eu não consegui mais encarar as paredes do mesmo jeito depois de tudo. Depois de você. Você as tirou do lugar, deixou tudo menor, mais sombrio, não depois quando chegou, mas quando foi embora.
E você sabe de que endereço estou falando né? Daquele bem irônico como você dizia: "Rua dos prazeres, n°87 apto 74.".
Eu ainda consigo escutar a sua voz enrolada de quem havia bebido todas e mais um pouco quando passou daquela porta pela primeira vez:
"- Enderecinho tosco esse seu hein? De prazer só o nome mesmo, porque aposto que sou a primeira mulher que passa por essa porta e só estou aqui porque estou bêbada. Ah, e que por sinal tem os números do meu nascimento 7 de abril de 1987,"
Suas definições eram simples: ou isso, ou aquilo. Meio termo não existia pra você. Ou bebe muito ou não bebe."Ou fode ou sai de cima."
Passou da porta e ficou, parada, observando meu apartamento com jeito de "menino mimado que saiu da casa dos pais só para gastar o dinheiro sem destino, não sai, não bebe, não come, nada e nem alguém."
Às vezes eu tinha vontade te mandar calar a boca
Saiu do meu apartamento antes do amanhecer, alegou que tinha que passar em casa antes de ir trabalhar.
E voltou depois, no dia 4 de julho, uma noite fria
E eu não sei de onde eu tirei que te amava, não eram só suas comparações idiotas que não faziam meu tipo, você inteira não cabia em mim.
Você não me dava muitas explicações sobre porque havia se mudado para o meu apartamento, chegou, entrou, ficou, poucas roupas, muitas garrafas, vicio idiota esse seu.
Não me lembro quando, mas lembro que vi, você se drogando dentro do meu banheiro, te pedi para parar, tentei argumentar, mas você queria "viver a vida, seu quadrado, parece minha mãe.".
Eu até queria ligar pra sua mãe e pedir que ela visse o que a filha estava fazendo com a própria vida, mas você me fez prometer
Se os números do meu endereço formavam a data do seu nascimento, o próprio decretou seu fim,
Entra aquelas paredes eu tinha uma noite fácil, umas decepções a toa, mas tinha o tal do seu prazer. Então, fui me deixado levar, ignorando suas garrafas vazias e seu pó espalhados pela casa. Ignorei quando te vi com outro na minha cama. Ignorei sua festinha enquanto eu viajava
Ignorei seus pedidos de socorro em silêncio.
E eu me culpo, mas também desculpo, porque não fui eu que acabei com você
Então, morreu vivendo,
E ai eu passei da porta depois das oito da noite em uma terça feira e te encontrei caída no chão, ao lado seus
E aí agora eu estou aqui,
Tchau, eu só vim te contar como eu não ando em paz graças a você, (
Paixão pode até ter sido Amor? nunca.
Ah, eu já ia me esquecendo, como me fez prometer, sua mãe acha que você morreu de pneumonia,