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domingo, 18 de maio de 2014

Apartamento 74




Oi, sou eu. O cara idiota que você conheceu naquela balada e se hospedou na casa dele, você lembra? Eu me lembro muito bem de você. Eu não consegui mais encarar as paredes do mesmo jeito depois de tudo. Depois de você. Você as tirou do lugar, deixou tudo menor, mais sombrio, não depois quando chegou, mas quando foi embora. 


E você sabe de que endereço estou falando né? Daquele bem irônico como você dizia: "Rua dos prazeres, n°87  apto 74.". 

Eu ainda consigo escutar a sua voz enrolada de quem havia bebido todas e mais um pouco quando passou daquela porta pela primeira vez: 


"- Enderecinho tosco esse seu hein? De prazer só o nome mesmo, porque aposto que sou a primeira mulher que passa por essa porta e só estou aqui porque estou bêbada. Ah, e que por sinal tem os números do meu nascimento 7 de abril de 1987,


Me diminuindo desde a primeira vez, claro, era o que vocês sabia fazer.


E prazer para você, eram duas pessoas sobre uma cama, ou o chão da sala, tanto faz, mas elas deveriam estar fazendo o que só quatros paredes deveriam saber. 


Suas definições eram simples: ou isso, ou aquilo. Meio termo não existia pra você. Ou bebe muito ou não bebe."Ou fode ou sai de cima."   (nojenta, um tanto quanto fora dos meus padrões, mas sua  preferida.) 


Passou da porta e ficou, parada, observando meu apartamento com jeito de "menino mimado que saiu da casa dos pais só para gastar o dinheiro sem destino, não sai, não bebe, não come, nada  e nem alguém."

Às vezes eu tinha vontade te mandar calar a boca ainda tenho quando sua voz ecoa na minha cabeça e às vezes eu até queria escutar as verdades que você vomitava como todo o álcool que tinha ingerido. 


Saiu do meu apartamento antes do amanhecer, alegou que tinha que passar em casa antes de ir trabalhar. 

Hoje, eu sei que casa, pra você,  era o bar mais perto .

E voltou depois, no dia 4 de julho, uma noite fria e tão vazia quanto você . Se jogou no meu sofá, sem pedir licença e sem ao menos me dizer oi. "Educação é pra gente que ainda não rompeu o hímen.".  Às vezes, eu queria saber de onde você tirava tanta comparação sexual para as coisas. 

Me perdi no raciocínio tentando falar da gente Onde eu estava? 


Ah ta, as paredes, você me fez prometer depois de se jogar no meu sofá e jogar os sapatos em um canto qualquer  que o que acontecesse entra as quatro paredes do meu pequeno apartamento,  ali ficariam e você ficou, foi ficando, tomando espaço e eu me acostumado. 


E eu não sei de onde eu tirei que te amava, não eram só suas comparações idiotas que não faziam meu tipo, você inteira não cabia em mim. a não ser quando estávamos nus, eu e você, de roupa, porque nunca consegui despir minha alma pra você, e você não me daria atenção também. 


Você não me dava muitas explicações sobre porque havia se mudado para o meu apartamento, chegou, entrou, ficou, poucas roupas, muitas garrafas, vicio idiota esse seu. 


Pena que não foi o único que conheci. 


Não me lembro quando, mas lembro que vi, você se drogando dentro do meu banheiro, te pedi para parar, tentei argumentar, mas você queria "viver a vida, seu quadrado, parece minha mãe.".  E bateu a porta na minha cara. 


Eu até queria ligar pra sua mãe e pedir que ela visse o que a filha estava fazendo com a própria vida, mas você me fez prometer e eu levo promessas a sério


Se os números do meu endereço formavam a data do seu nascimento, o próprio decretou seu fim, desculpa a sinceridade  você jamais deveria ter saído da casa da sua mãe, porque foi dentro do meu apartamento que você se acabou e é isso que as paredes me dizem cada vez que eu passo pela porta. 


Entra aquelas paredes eu tinha uma noite fácil, umas decepções a toa, mas tinha o tal do seu prazer. Então, fui me deixado levar, ignorando suas garrafas vazias e seu pó espalhados pela casa. Ignorei quando te vi com outro na minha cama. Ignorei sua festinha enquanto eu viajava é, você tinha razão quando me chamava de babaca. 


Ignorei seus pedidos de socorro em silêncio. E hoje eu me culpo  todos os dias. 


E eu me culpo, mas também desculpo, porque não fui eu que acabei com você pelo menos eu tento me enganar que não,  foi a sua fixação pelo abismo, não sei qual era a graça, mas você curtia observar a vida debaixo, pelo lado mais obscuro possível. Pra você, isso era viver. 


Então,  morreu vivendo, sendo feliz na sua pequenez de vida. 


E ai eu passei da porta depois das oito da noite em uma terça feira e te encontrei caída no chão, ao lado seus tão idiotas quanto você vícios. 


E aí agora eu estou aqui, presenciando que esses números realmente te perseguem, você a 7 palmos do chão e eu sentado na 4ª lápide da direita para esquerda, falando com uma mulher louca que bagunçou a minha vida, e mesmo sem a dela não me deixar mais viver em paz. 


Tchau, eu só vim te contar como eu não ando em paz graças a você, ( o que te deixaria satifestia, com um sorriso sacana no rosto e dançaria dizendo que é enlouquecedora, usando as palavras no sentido errado, sempre!)  alguém que nem amei. 


Paixão pode até ter sido  Amor? nunca.

Desculpa a sinceridade, aprendi com você.


Ah, eu já ia me esquecendo, como me fez prometer, sua mãe acha que você morreu de pneumonia, mais uma culpa que eu carrego por você, estou de parabéns.    Ela não precisava saber que a filha escolheu morrer. 









Venha a mim e ao meu reino




Então, preciso te fazer uma pergunta séria.

Você me acha egoísta?

Seja sincera, por favor. Não que eu me ache egoísta, ou talvez eu seja. Mas é o modo com que as pessoas falam de mim. Sempre escutei que era fria, desligada, sem coração e coisa do tipo, mas esses dia me chamaram de egoísta. É,  com todas as letras.  

Foi uma daquelas meias verdades jogadas na cara em tom de brincadeira, mas que de alguma forma você sabe que não existe nela a meia mentira? E me doeu, me doeu como uma verdade doí. Ainda mais vindo de quem veio. Uma amiga. Uma amiga muito próxima. Gente da qual você não espera ouvir isso sabe?

Poxa, eu sempre estou ali com ela, vamos a várias festas, temos altas histórias engraçadas juntas. Ela quer mais o quê? Tá certo que eu não a atendi direito naquele dia que ela me ligou chorando, mais uma crise com o namoradinho problemático dela.  Mas na hora da minha novela não sou obrigada né? O namorado é dela, ela que resolva.

A única vez que aceitei trocar minha novela por alguma coisa, não foi exatamente uma troca espontânea. É que o Rodrigo, aquele meu ex babaca sabe?  Então, resolveu vir em casa e ter um ataque de “Não está mais dando certo, vamos terminar. Beijos, tchau.”. Ou melhor, foi tchau seco, sem beijo.

Desabei a chorar na hora e apertei logo a discagem rápida do celular. Número de quem? Dela, claro, a melhor amiga do universo, que me escutou soluçar e balbuciar umas palavras por longas três horas. Ela só não veio em casa porque a proibi, mas sei que ela teria vindo.

Não é questão de ser egoísta, são prioridades da vida sabe? Quando liguei ela não estava fazendo nada, eu sei que não, ela nunca está fazendo nada. E ela  quer me ligar no meu único momento de paz, ainda quer falar que só sei ser amiga quando EU preciso e que não sei me doar para as pessoas, é muito abuso.  São coisas bem diferentes.

Eu poderia escutá-la depois. Ela que esperasse um pouco. Eu não tinha como mandar a Globo parar o capítulo.  Não é ela que vive falando que temos que saber dar sem receber nada em troca? Então tá ai. Eu precisei e ela me atendeu, vamos esquecer. Não foi favor, foi questão de amizade. Ela precisou e eu estava ocupada? Espera um pouco. Não é egoísmo, é prioridade. 

Outra Forma de amor


Acho que foi enquanto tomávamos café, naquela noite depois do serviço.
Sempre fazíamos isso, você sentava em uma ponta do sofá, eu sentava na outra, esticava minha perna sobre você e conversamos sobre o nosso dia.

Minha caneca, sempre cheia porque você dizia que o meu copo da vida sempre estava meio cheio. Era aquela que você me deu de presente em um dia qualquer.

(Gostávamos de surpreender,  dizíamos que aumentava o  amor e evitava a rotina).

Você escreveu nela um "te amo" grande, porque disse que ele deveria ser do tamanho do nosso amor e ele era.Com o tempo o te amo começou a sumir, ficar meio apagado, eu já nem o percebia ali.

Você contou uma piada e eu ri, suas piadas sempre péssimas, mas que me tiravam o riso fácil pela forma inocente e natural como você contava, como você era.

Você conta piadas ruins como se fossem ótimas, ri de um jeito meio escandaloso, anda meio rebolando e tem vergonha quando te olham por muito tempo, tudo isso de forma natural e inocente que me conquistou desde a primeira vez que coloquei os olhos em você. Teimosa como é, sempre bate o pé quando dizem isso, diz que não é nada inocente e olha para mim procurando minha confirmação. Eu apenas dou risada e fico tão vermelho quanto você.

"Está maluca que vou confirmar isso em público?!".  Era o que eu costumava dizer.
 
Mas voltando, foi enquanto tomávamos nosso café que eu percebi que nosso amor é cheio, é bonito, é admirável.  Mas nossa paixão, ou desejo, como preferir,  mas falo do que faz de um casal de amigos um casal de namorados sabe? Então, anda tão imperceptível quanto o eu te amo da minha xícara.

Quem passar por nós dois na fila do Mc Donalds vai dizer que o desejo acabou. Vão dizer que tem respeito, tem carinho, mas paixão? Aquela vontade do outro? Isso não tem mais, acabou. 

E quem nos ver andando pela Paulista em uma tarde de sábado vai dizer que somos grandes amigos,  irmãos talvez. Mas namorados? Namorados não mais.

De tanto fugir da rotina no nosso relacionamento fomos engolidos por ela. Nós perdemos essa pequena. Perdemos a batalha, mas não a guerra. 

(Agora é a hora que você ri, da minha filosofia barata) 

Mas não perdemos tão feio assim,  porque restou amor. De outro jeito, em outro contexto,  mas ele ficou. 
Então não se desespere, não faça as malas, não grite que não volta mais. Fique. Fique como o amor ficou. Talvez a paixão tenha ido  tomar uma xícara de café,  respirar outros ares e já volta.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Não é que deu rima?



Ela chegou na minha vida em uma terça de novembro, toda despretensiosa, charmosa, dessas que tem o mundo na mão. Chegou cheia de marra, sorrindo largo, botando banca, como que não queria nada, foi tomando sei espaço e dentro de mim fazendo morada.

Ela chegou assim, do nada, sempre apareceu na madrugadas, numa dessas noites com um belo luar. Abriu minha janela e me ensinou a admirar as estrelas no céu. Me tirou o sono. Virava noites,  torturava a luz do dia, me despia sem pudor e quando se dava por satisfeita, sorria. Sorria leve, sorria só pra mim.

Logo era de casa, do tipo visita constante, que já sabe onde guarda tudo e crítica o tapete da sala. Que quando vai embora você sente falta. Ela batia a porta e meu coração errava a batida. Silenciava a casa e sua voz ecoava em mim. Imediatamente eu saia pela casa em busca da sua risada, seu jeito, seu cheiro. Ela já estava ali.

Eu a queria.

Pediu pra deitar. Entre risadas, leves alfinetadas, discussões sutis que nos levava a nada, pra quem.via de fora. E que por dentro, já fazia tudo mudar. 

Não gostou. Se desagradou entre uma fala e outra. Fez bico, mudou seu jeito. Atravessou a casa. Disse que não voltaria mais, saia pela última vez. Chorava. Gritava. Me olhava.

Abriu a porta e saiu, mas sem bater, só encostou. Sai atrás, ela já era minha, não tinha o que contestar. Segurei em sua mão. Me olhou fria. Volta. Não é mais a mesma coisa sem você. Volta. Ajeitei seu cabelo atrás da orelha e lhe acaricie o rosto, a pele sempre macia.

Volta.

Ela sorriu. Me pediu motivos. Eu lhe daria vários.

Seu perfume. Já está em todos os meus lençóis. Seu sorriso. Já está em. todas as minhas memórias. Seus abraços. Seus beijos. São todas as minhas vontades. Seus deboches. Seu jeito. Não sei mais sem eles aqui.
Ela sorriu mais leve que todas as outras vezes e entrou. Disse que não sairia mais. Ligou meu rádio e mudou minha frequência. Me puxou pra dançar e me fez prometer.

"Só você e eu, m(a)is nada, nem ninguém" 


domingo, 4 de maio de 2014

Colo confessionário


Há algumas horas, nos encontrávamos na mesma posição. Um silêncio em nosso quarto contrastava com o barulho incessante da avenida em frente ao prédio. Chovia.

Tinha a cabeça apoiada sobre as minhas pernas. Imóvel. Uma mão apoiada na lateral do rosto e a outra fazendo círculos no lençol. Um vento frio entrava pela janela entreaberta que eu esqueci de fechar e  batia em nossas pernas, descobertas e entrelaçadas.  As gotas passavam pela janela e molhavam o chão, enquanto as lágrimas dela molhavam meu colo. Chorava baixinho enquanto eu alisava seu cabelo.

Ensaiei levantar e senti suas mãos apertando minha coxa, me pressionou contra a cama e eu cedi.

Reclamou por chorar. Pela milésima vez desde que entramos naquele quarto. Reclamou da vida, ou melhor, questionou a vida.  Questões que ela mesma respondia. Eu pouco falava. Ela chegava as próprias conclusões, a maioria delas sobre dar um jeito em tudo, colocar o mundo no bolso, resolver os problemas dos outros. Era de coração, porque ela era coração.  Sem ter espaço para respirar, se fazia transbordar sem notar.

Eu permanecia em silêncio,  era desnecessário falar. Reclamou. Um pouco nais alto que das outras vezes em que falou. Áspera. "Fala alguma coisa. Eu estou falando de mim e você não fala nada.". Mais uma vez meu silêncio.

Estava sem jeito.

Queria mante-la para sempre ali, comigo. Queria colocar de volta seu sorriso, odiava ve-la assim. Senti um tapa fraco em minha perna, seguido por sua respiração batendo quente em minha pele."Te.O.dei.o". falou pausadamente. Não reclamei. Continuei a alisar seus cabelos. Queria tanto que percebe-se que não dá pra carregar o mundo sozinha. Queria que nota-se que eu poderia dividir com ele aquele peso.

Sussurrou. Não entendi. Ela repetiu. Mais alto dessa vez. "Vai passar. ".Estava pensando em voz alta.

Falava pra se ouvir, achava que fazia mais efeito. Se aconselhava, se ouvia, se perdia, encontrava, tentava se bastar. E para mim, bastava ela e a entrega, a confiança de se dividir comigo, mesmo que sussurrasse que me odiava e que meu silêncio a torturava. Meu silêncio tinha razão, porque mesmo que pensasse o contrário, eu a entendia,  sabia que não adiantaria falar. Ela estava fechada pra balanço.

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