Páginas

domingo, 18 de agosto de 2013

Terça cinzenta


Era só mais uma terça feira fria na cidade que é quente nas entrelinhas, nos casais apaixonados que cruzam as ruas, nos os olhares que se cruzam cheio de boas (ou más) intenções e por que não na Rua Augusta?

Era uma manhã fria, de céu nublado, onde as pessoas andam com pressa em busca de um lugar quente param se abrigar, pode ser uma galeria cheia de coreanos ou até mesmo um coração. Eu sempre procuro corações para me abrigar no coração financeiro da cidade, a Avenida Paulista. Seria uma típica manhã fria. Pessoas com pressa, mãos nos bolsos e  cabelos que não se entendem com o vento. Seria se não fossem aqueles olhos ou aquele belo sorriso acima da echarpe vermelha.

Era o caminho comum que eu fazia questão de cumprir metodicamente. Estação Trianon-Masp, um café do Starbucks e uma caminhada a passos curtos até a redação. Mas no meio do caminho havia não uma pedra, mas o sorriso tão lindo que a dona parecia estar vendo um dia colorido diferente daquele céu cinza. Poderia ser apenas uma bela moça com quem cruzei, como aquelas que passam por mim todos os dias no metrô ou na rua, mas ela tinha um algo que me dizia que eu deveria falar com ela. 

Sem pensar duas vezes, entrei no Starbucks e comprei dois cafés, um para mim e outro pra ela. Pedi que se no dela "para o sorriso mais bonito".  Quando retornei a rua ela já estava um pouco longe, reconheci a echarpe vermelha e os passos leves de quem parecia flutuar. Corri até ela com nossos cafés em mão (confesso que até agora não acredito que fiz isso, logo eu tão tímido. Logo eu, oferecendo um café a uma desconhecida, meus amigos não acreditariam se vissem.).
Dei bom dia e estendi a mão oferecendo o café, ela abriu ainda mais aquele belo sorriso e aceitou o café. 
- Leandro.
- Ana.

Ana. Esse era o nome simples do mais lindo sorriso. O sorriso que eu não esqueceria mais. Contei a ela que seu sorriso havia me chamado atenção, que não era comum ver as pessoas sorrindo em plena manhã fria na Avenida Paulista (deveria ter contado também que não era comum eu oferecer cafés a estranhas, na verdade não era comum eu tomar atitude quando o assunto era mulheres). E então ela me revelou o motivo do belo sorriso, ela estava indo encontrar o namorado que havia chegado de uma viagem de três meses.

O que coloriu o dia dela, por algum tempo o nosso, voltou a deixar triste o meu. Então o sorriso tinha um destino certo? Ele não me acompanharia para o resto da vida como eu havia imaginado? Não, iríamos juntos apenas até a próxima quadra. Sim, fiquei decepcionado, mas não arrependido.

Agora o sorriso dela havia ganhado mais um motivo para estar ali, foi o que ela me disse. Aquele belo sorriso que eu nunca mais vi, ou sei se ainda existe, eu nunca mais esqueci. Em toda e qualquer manhã fria, eu imagino que Ana estar por aí colorindo dias com seu belo sorriso como coloriu e descoloriu o meu naquela fria manhã de uma terça feira (quase) qualquer.

4 comentários:

  1. Mto bom! O que mais admirei nesse texto, em especial, foi a riqueza de detalhes de quem parece ter sentido na pele o que escreveu.
    Você escreve muito bem!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ai Karen, nem sei como te agradecer mais. Seus comentários semp´re me deixam mais que feliz. Obrigada <333

      Excluir
  2. lindo! vc deveria escrever um livro,porque é muito boa e escreve muito bem!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Nossa, obrigada de verdade.
      Um livro eu acho um projeto muito grande, mas quem sabe um dia. <333

      Excluir

Compartilhe se gostou