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terça-feira, 25 de junho de 2013

E lá vai ela



Ela anda leve pelas ruas como se nada a abalasse. Ela anda. Às vezes corre um pouco. Rodopia no meio da multidão. Esbarra em um estranho e sorri. Que sorriso leve, lindo, livre. Ela acabou de mudar o dia daquele homem.

Ela continua pela rua como se não tivesse compromisso algum. Olha para o relógio e ri. Está atrasada. Mas quem liga? Ela corre. Tem um pouco de pressa, mas só porque lhe foi imposto assim. Por ela, ela ficaria a rodopiar mais um pouco.

Chama atenção da senhora. Como tem pessoas que deixam a vida mais bela. O moço do café sorriu ao vê-la passar. Sempre atrasada, mas nunca sem tempo de sorrir. A mãe do outro lado da rua não viu graça na menina mulher. Se ela tivesse um pouco de roupa para lavar talvez.  A menininha agarrada a mão da mãe quer ser como ela como crescer. Ela usa um vestido bonito.

A menininha não sabe, mas a moça do vestido florido é quem quer ser como ela.  Ela parece uma criança. Ou tenta ser como uma. Tenta ver a vida como quando não tinha grandes compromissos. Tenta parecer tranquila. Tenta não se deixar abalar. Mas tentar não é suficiente.

Ela não deixa transparecer mas por aquele sorriso passam lágrimas todos os dias. Ela só faz o máximo que pode para coloca-lo de volta. Toda manhã enquanto se veste. Veste-se de menina leve. Mas quando volta e está finalmente em seu mundo. Seu quarto. Seu silêncio. Ela desaba. Ela chora. E chora sozinha. Chora por se sentir sozinha.

Mas ninguém é obrigada a carregar seus pesos. Ninguém é obrigado a secar suas lágrimas. E então ela tenta parecer leve. Porque até que ela é feliz. Feliz nas horas em que faz alguém mais feliz do que ela mesma pode ser. Como o moço do café ou a menininha agarrada a mão da mãe. Ela mostrou a elas que a vida pode ser um pouquinho melhor. Não a dela. Mas pode.

E lá vai ela desejando um bom dia à recepcionista que se pergunta como pode alguém ser tão feliz com a vida sendo tão difícil. A recepcionista  mal sabe que a mulher leve que passou por ali disfarça uma vida difícil, seus dilemas internos,  para tornar a dela mais simples. A recepcionista  nem pode imaginar o que aquele doce sorriso esconde.

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